terça-feira, 2 de outubro de 2012

A questão da herança


Caro leitor; se você é um libertário, ou simplesmente conhece a natureza do libertarianismo, deve saber que prezamos muito pela meritocracia. Caso não saiba o que a meritocracia é, permita que eu o explique. Meritocracia nada mais é que a política do mérito, do merecimento, onde o que você ganha é proporcional ao que você trabalhou.

Os benefícios que a meritocracia traz para a sociedade, quando levada a sério, são excelentes, para não dizer fundamentais. Quando não há meritocracia, ou seja, quando todos são recompensados da mesma forma - mesmo quando há alguns que trabalharam mais que outros -, os que trabalharam mais começarão a se perguntar “por que devo dar duro se de qualquer maneira vou receber o mesmo que aquele vagabundo ao lado?”;logo, os trabalhadores irão entrar em um completo estado de vadiagem no trabalho, onde competirão para ver quem trabalha menos, o que por sua vez irá gerar produtos mais caros e de qualidade duvidosa.

Explicado o que é a meritocracia, vamos ao ponto central desse texto: muitos críticos da ordem social argumentam que a herança é um atentado à meritocracia, uma vez que ela permite que pessoas que trabalharam pouco – ou quase nada – recebam quantias enormes de dinheiro de seus pais; sendo assim, a herança fere a meritocracia a partir do momento em que pessoas que trabalharam pouco recebem grandes quantias monetárias.
 



O primeiro ponto para a defesa da herança é que ela é um direito familiar e individual; o doador da herança (os pais, geralmente) decidiu por vontade própria qual o fim que seu dinheiro deveria levar após sua morte; se ele decidiu que o dinheiro era de seus filhos, ou quem quer que fosse o recebedor, sua decisão deve ser mantida por uma questão de liberdade individual e de como cada um deve usar o próprio dinheiro da forma que quiser, mesmo que seja após a morte.

Outro ponto a ser levado em consideração é que as pessoas acreditam que herdeiros de grandes fortunas, geralmente chamados de “playboys”, não são merecedores de herança porque não são aptos o bastante para usá-la de forma prudente e responsável a fim de manter os negócios de seus pais. Em parte esse argumento está certo, mas no fundo ele não passa de um argumento montado em cima de estereótipos sociais que nem sempre se confirmam; é verdade que há aqueles herdeiros abastados que decidem levar uma vida de hedonismo e curtição, mas também há aqueles que decidem levar uma vida centrada e a manter os negócios dos pais. Além do mais, conhecimento empresarial não é aprendido por osmose ao dinheiro, se o herdeiro não se esforçar para se tornar um bom administrador ele não o será, não importa de quem ele seja filho.

Além do mais, em um ambiente economicamente livre, isto é, onde há facilidade de empresas e concorrentes adentrarem no mercado, fica difícil para o herdeiro-hedonista manter sua vida de farra; isto porque com a forte concorrência dos outros empresários, ele terá que administrar seu patrimônio de tal forma que possa oferecer bens e serviços mais baratos e de melhor qualidade que dos concorrentes, e isso meu caro leitor não é nada fácil. Em outras palavras, as chances de em um ambiente economicamente livre (concorrencial) as chances de alguém se dar bens sem preparo são nulas, ou o dito “mauricinho” se esforça ou irá à falência.

Os críticos da herança tem a forte tendência a olharem as coisas apenas do ponto de vista do herdeiro (os donos atuais donos dos meios de produção) e se esquecem de olhar do ponto de vista do consumidor; eles simplesmente ignoram o fato de que não é apenas o dono dos meios de produção que podem se beneficiar do mesmo, os consumidores são por excelência os maiores beneficiados dos meios de produção, afinal, são eles quem usam o que ele produzem. A pura verdade é que os críticos da herança são os mesmos socialistas críticos do capitalismo e da “desigualdade social”; são aqueles mesmos militantes movidos pela inveja e na falta de darem um rumo para suas vidas decidem criticar aqueles que o fizeram.

Agora caro leitor, imaginemos por um instante que a herança não exista graças a um decreto estatal; digamos que o governo recolha o dinheiro (capital) e os bens de produção que seriam destinados aos herdeiros legítimos. Agora o capital e os meios de produção (empresas, fábricas, maquinário, etc.) pertencem a zeladores encarregados de cuidar dos mesmos. Como resultado disso teremos o uso do capital para o benefício dos próprios zeladores; eles não conseguiram o dinheiro por si só, não são os poupadores legítimos, e como ninguém cuida tão bem do dinheiro alheio como cuida do próprio, o dinheiro agora será usado para seus fins egoístas. Isso sem contar o fato de que em se tratando de empresas estatais, as pessoas que assumem os cargos de presidência e gerencia das empresas não são as mais aptas para isso, são sim aquelas que possuem bons contatos no meio político, são aquelas mais politizadas e influentes e não as mais eficientes; logo, todo o meio empresarial será composto por empresários ineficientes e medíocres.

Em suma, a herança não é danosa para a sociedade e para os consumidores desde que haja um ambiente economicamente livre, coisa que todos os libertários lutam. Além do mais, a herança é um direito individual do “doador” uma vez que cada um deve escolher qual o fim que seu dinheiro deve levar. Sem contar o fato de que não é só o herdeiro dos bens de produção que se beneficiam do mesmo e sim todos os consumidores.


3 comentários:

  1. "se o herdeiro não se esforçar para se tornar um bom administrador ele não o será, não importa de quem ele seja filho".
    Ok, e aqueles que possuem uma fortuna tão grande de herança que morrem sem terem trabalhado um dia se quer?

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    1. Ele vai morrer sem ter-se tornado um bom administrador, e dependendo do estilo de vida que levar(pródigo)poderá deixar muito pouco para seus filhos ou nada.

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    2. Vai passar a vida dilapidando a herança deixada para ele. Se ainda sobrar, o filho pode fazer a mesma coisa. E se as gerações futuras continuarem sendo incompetentes, um dia a herança acaba (não creio que existam exemplos de fortunas herdadas que duraram várias gerações apenas sendo gastas, e sem trabalho algum).

      Mesmo se ele guardasse para sempre o dinheiro, Rothbard demonstra que isso não é ruim, pois, (novamente, em um livre mercado) a retirada de dinheiro de circulação faz os preços dos bens abaixarem (ou o que seria a mesma coisa: o aumento na demanda por dinheiro aumenta o valor do mesmo).

      http://mises.org.br/Article.aspx?id=1526

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